Pablo Miyazawa

Dave Grohl: entre Idas e Vindas

A vida de Dave Grohl poderia ser muito mais fácil. Porém, algo o estimula a dificultar as coisas. Tem sido assim já há bastante tempo. Até 1994, Grohl, então com 25 anos, era “apenas” o baterista do Nirvana, a atração musical mais intensa, controversa e revolucionária da década. Naquele 5 de abril, o suicídio de Kurt Cobain encerrou a banda de modo brusco, e Grohl se viu repentinamente desamparado: sem o amigo, sem o grupo que o tirou do anonimato, sem energia para prosseguir na música. Após o luto, a chance de se restabelecer como baterista de apoio de artistas já consagrados surgia como o caminho fácil e natural. A rota difícil – liderar uma nova banda e ser o vocalista e principal compositor – se mostrava improvável demais para dar certo. Naturalmente, Grohl optou pelo caminho mais nebuloso.

“O que eu estou tentando provar? O que eu estou fazendo? É que eu simplesmente não consigo evitar!”, Grohl questiona a si próprio sobre a assumida obsessão pelo trabalho árduo. De certa forma, todos os riscos tomados ao longo dos últimos anos compensaram. Hoje, aos 43 anos, ele se encontra mais no topo do que nunca. Wasting Light (2011), oitavo álbum de estúdio frente ao Foo Fighters, liderou paradas pelo mundo, rendeu prêmios da indústria (cinco troféus Grammy) e contribuiu para oficializar Grohl como o último defensor do rock and roll, paladino e porta-voz oficial da causa da música feita com guitarras e livre de “nefastas influências digitais”.

O quadro poderia ser diferente se o músico não fosse tão eficiente em desempenhar o papel social que lhe foi conferido há alguns anos. Conhecido por um punhado de apelidos positivos (“o cara mais legal do rock” e “o homem que mais dá duro na música” são alguns), Grohl até se esforça para ignorar a boa fama. Em certo momento de Back & Forth, documentário recente sobre o Foo Fighters, uma faceta imperfeita é revelada: em 1996, ao regravar as batidas do disco The Colour & the Shape, Grohl teria forçado a saída do então baterista William Goldsmith. Mas, até mesmo em um contexto negativo, é possível enxergá-lo sob um prisma simpático – e esse é apenas um dos dons que Grohl tem.

Outro apelido que lhe cairia bem, embora não tão louvável, seria o de “maior arroz de festa do rock”. Como músico convidado de luxo, Dave Grohl coleciona participações especiais em mais discos e turnês do que caberiam nos dedos de duas mãos. Também se orgulha de ter tocado lado a lado com a maioria de seus velhos heróis do rock – para listar alguns, Lemmy Kilmister (Motörhead), Tony Iommi (Black Sabbath), Brian May (Queen), John Paul Jones (Led Zeppelin), e, mais frequentemente, Paul McCartney. E na histórica jam ao final da cerimônia do Grammy 2012, estrelada por McCartney, Bruce Springsteen e Joe Walsh, Grohl é quem parecia mais à vontade, apesar de ser o mais jovem guitarrista no palco.

Trabalhos paralelos à parte, o Foo Fighters é a eterna prioridade de Grohl. Frente à banda – que começou como projeto individual, gravando todos os instrumentos sozinho –, ele se vê na privilegiada condição de levantar bandeiras conceituais e falar o que vem à cabeça, sem se preocupar com consequências. Ao receber o Grammy de “Álbum de Rock do Ano” por Wasting Light, ele verbalizou desprezo à eletrônica e à falta do elemento humano na música contemporânea. Tais palavras geraram polêmica pelo fator contraditório: naquela mesma noite, o Foo Fighters havia se apresentado junto às batidas digitais do DJ Deadmau5. A patrulha na internet não perdoou.

Dias depois, apaziguador como de costume, Grohl divulgou um comunicado em que colocava panos quentes na história. “Eu amo todos os tipos de música”, escreveu. “Eletrônico, acústico, não importa. O ato de criar música é um lindo dom com que todos os seres humanos foram abençoados.”

As turbulências que levaram o Foo Fighters de volta às manchetes culminaram no penúltimo dia de fevereiro, quando a banda anunciou o cancelamento de parte dos shows do braço asiático da turnê de Wasting Light. O comunicado alegava que o vocalista precisava “cuidar da voz”, sem fornecer mais detalhes. No dia seguinte, por telefone, a assessora de Dave Grohl não menciona qualquer problema, mas se adianta a me avisar: “Não pergunte sobre o Nirvana. E não pergunte sobre Courtney Love”. Mas, horas depois, seria o próprio Grohl que mencionaria o primeiro tema, da maneira que ele costuma fazer quando está se sentindo nostálgico, de bom humor e à vontade – ou seja, na maior parte do tempo.

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Vocês divulgaram ontem que cancelaram parte dos shows na Ásia por causa da sua voz. Qual é o problema? Como está se sentindo?
Eu estou bem. É algo que existe faz um bom tempo. Eu tenho um cisto na minha garganta já há um ano. Só que eu vinha evitando mexer nele. Quando voltei pra casa da última viagem, aquilo acabou se transformando em algo que me obrigou a procurar um médico pra valer. Fui lá e tive de fazer uma ressonância magnética, passei por diversos médicos, só para ter certeza de que não era algo realmente perigoso. Sabe, eu já estou viajando há muito tempo, berrando até a minha cabeça estourar pelos últimos 18 anos [risos]. A coisa mais importante para mim… quero dizer, honestamente, a coisa mais importante da minha vida é a felicidade, família e amigos. A segunda coisa mais importante para mim é a música. Então, ter certeza de que minha garganta irá funcionar pelo resto da vida é o mais importante neste momento. Eu só precisava mesmo me consultar com uns médicos, cuidar disso e ficar pronto para voar para aí e encontrar vocês.

Esse acontecimento fechou um mês bem movimentado para você. Teve a cerimônia do Grammy, os prêmios que o Foo Fighters ganhou, aquela jam no fi nal com Paul McCartney. E teve o seu discurso. Você improvisou a coisa toda ou foi algo já preparado na sua cabeça?

Sabe, é engraçado. Meu pai era um redator de discursos. Ele escrevia discursos para políticos em Washington D.C.. E minha mãe era uma professora de discursos. Ela ensinava as pessoas a falar em público. E o melhor conselho que eles me deram na vida foi: jamais leia um discurso. Você pode até escrevê-lo e ler para si mesmo. Mas, quando chega a hora de ficar na frente das pessoas e falar, você não lê: apenas fala. Bem, eu sabia o que queria dizer na hora. Sabia que queria transmitir para as pessoas que eu estava orgulhoso do nosso disco, porque é uma representação realmente verdadeira da banda. Porque o fizemos sem nenhuma manipulação digital, e porque o gravamos em fita analógica na minha garagem. Meu desejo era fazer esse disco soar como o Foo Fighters de verdade. Não queria que ele soasse perfeito, nem polido, nem melhor do que nós realmente somos. Eu queria que ele soasse exatamente como a gente é. E era isso que eu estava tentando dizer na hora.

E qual é a real mensagem por trás disso?
Acho que a coisa mais importante é que as pessoas – e as crianças, principalmente – compreendam que música é um processo humano. É uma forma de arte humana, entende? Esteja você programando música em um computador ou tocando um violino, é preciso um ser humano para se fazer música. Esse tipo de música que o Foo Fighters faz: eu gosto quando ela soa como se fosse realizada por pessoas. Como uma banda de rock. E eu não curto quando bandas de rock parecem que foram aperfeiçoadas por computadores. Gosto quando soa cru, como se fosse um grupo de gente tocando em uma sala. E era isso que eu estava tentando passar ali: que as pessoas precisam entender que o fator mais importante é o elemento humano. É o que vem da sua cabeça, do seu coração, das suas mãos… Se você quer que a próxima geração de crianças acredite na música, elas precisam acreditar que isso vem da mente e do coração. E que é ok soar como um ser humano. Simples assim.

Mas você imaginava que esse tipo de comentário se espalharia tão rapidamente e se tornaria uma espécie de declaração definitiva contra toda a música que não é rock?
Bem, o curioso disso é que eu sempre curti música eletrônica, a minha vida toda. Eu ouvia Kraftwerk e Tackhead nos anos 70 e 80. Fiz turnês com o Prodigy nos anos 90, ou mesmo tocando com eles. Inclusive, eu toquei bateria no último disco do Prodigy. Eu adoro Deadmau5, gosto muito do Skrillex também. Sempre fui fã de música eletrônica. Então, acho que o povo entendeu errado as minhas palavras. Eles não sacaram que eu amo música eletrônica, mas também amo que seres humanos tenham o direito de soar como seres humanos. Porque, na verdade, eu estava dizendo que há pessoas – produtores, as gravadoras e as estações de rádio – que pensam que a música precisa ser imaculada e perfeita. E, na real, não precisa. A coisa mais incrível sobre a música é quando ela é uma puta loucura, sabe? O Nirvana, por exemplo. Você ouvia o Nevermind e pensava: “Uau, esse é um ótimo disco de rock”. Mas, quando você nos via tocar ao vivo, era algo do tipo: “Que porra é essa?” Tá entendendo? Nós éramos uns malucos do caralho. Uns loucos. E isso que era realmente emocionante. Portanto, o que o mundo precisa saber é que é assim que as coisas são, e tudo bem.

Mas, caso o mundo não saiba mais disso, o que irá acontecer?
Olha, hoje em dia, quando um produtor vai trabalhar com uma banda e o baterista não toca perfeitamente, a maioria deles irá tentar fazê-lo soar perfeito. Mas é assim: “Não, não faça isso! Faça-o soar como ele mesmo! Não use um computador. Se estiver gravando, faça o cara soar como ele toca de verdade!” E as gravadoras precisam saber que a música que faz as pessoas se conectarem é aquela que soa como gente de verdade. Se um garotinho cresce ouvindo música, ele vai achar que aquilo é tocado por robôs. Não há emoção. É esquisito, sabe? Tipo, há crianças que apanham dos pais, que os amigos são baleados e morrem, que odeiam os professores, são feios, não se apaixonam, se sentem uns merdas. São adolescentes e odeiam esse fato. Eles querem encontrar alguém que alivie a dor e façam eles se conectarem com os seres humanos, entende? É isso. Para mim, é o que importa. Quando eu era um adolescente, feioso, esquisito pra caralho, punk, que todo mundo achava estranho, eu odiava meus professores, não fazia nada direito… Eu não queria escutar a porra da disco music. Eu queria ouvir o Slayer, o Dead Kennedys, saca? Eu queria dividir minha dor com alguém.

Da mesma maneira que todo mundo que já foi adolescente um dia.

Sim! Relacionar pessoas com pessoas. E é por isso que acho que o verdadeiro elemento humano na música precisa voltar, para o povo acreditar nela novamente. É bem isso o que eu penso.

Você parece ter uma dedicação apaixonada a tudo em que põe as mãos. Isso o confunde ou atrapalha de alguma forma? Você se considera um perfeccionista?
Sabe, eu estava hoje mesmo falando com meu empresário [John Silva] sobre isso. Eu só tive um empresário nos últimos 22 anos. Era ele quem cuidava do Nirvana. Somos como uma família, amigos mesmo. Pois então, a gente dizia sobre o fato de eu trabalhar tanto. Agora tenho 43 anos e trabalhei pesado nos últimos 15. Seja com o Foo Fighters, o Queens of the Stone Age, o Them Crooked Vultures, ou produzindo um filme, há sempre diversos projetos rolando. O negócio é que eu tenho uma ideia e penso: “Ok, isso vai ser ótimo”. E daí eu chego no meu empresário e na bela equipe que trabalha comigo e pergunto: “Ei, isso não seria legal?” E daí… o lance acontece! Tipo, toda ideia que eu tenho, as pessoas falam: “Yeah, vamos nessa”. E eu acabo fazendo milhares de coisas, sabe? E é esse o grande luxo de minha vida. Eu sou realmente apaixonado por música, por tocar, gravar, fazer turnês, todas essas coisas. Eu amo tudo isso. Amo tanto e sempre amei. Por isso, às vezes é difícil falar “não”. É difícil parar. Eu sou tão sortudo de ter um trabalho que amo mais do que qualquer coisa. Mas há momentos em que… sei lá. Por exemplo, aconteceu uma coisa há uns meses. Você ouviu falar sobre este filme que estou fazendo?

Sobre a história do clássico estúdio Sound City, em Los Angeles.
Isso, o documentário. Ah, é tão incrível, tão inspirador! E eu juro por Deus, este filme vai fazer as pessoas acreditarem no rock and roll. Elas vão assistir e pensar: “Ah, não! Eu quero fazer uma banda agora mesmo para gravar um disco” ou “preciso aprender já a tocar bateria!” Vai inspirar toda uma geração de pessoas. É incrível pra cacete, sensacional. Mas daí, no meio disso, eu voltei da turnê e entrei de cabeça nesse negócio de fazer o filme. Eram 12 horas por dia, enlouquecido. Em certo momento, eu estava me despedindo de minha esposa antes de ir para o estúdio. Eu tinha dormido só duas horas, tinha que levar as crianças para a escola, estava cansado pra caralho e falei pra ela: “O que eu estou tentando provar? O que eu estou fazendo? Que porra é essa?” É que eu simplesmente não consigo evitar!


E o que você está tentando provar, Dave?
Eu não sei! Eu tenho um tempo tão curto nesta Terra. Estou tentando realizar o máximo de coisas que puder para fazer as pessoas felizes. É isso, ou sei lá por que diabos eu estou fazendo. Acho que quero provar que consigo me divertir mais do que qualquer um [risos].

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Dave Grohl se prepara para pousar no Brasil pela terceira vez – o Foo Fighters encerra a primeira noite da edição nacional do festival Lollapalooza, em 7 de abril. Anteriormente, foram duas visitas ao país: em 2001, com o Foo Fighters, no Rock in Rio 3; e, em 1993, com o Nirvana, para duas apresentações no festival Hollywood Rock, ao lado de Red Hot Chili Peppers, Alice in Chains e L7.

Os dois shows de quase 20 anos atrás, no Estádio do Morumbi (em São Paulo, em 16 de janeiro) e na Praça da Apoteose (no Rio de Janeiro, em 23 de janeiro), bastaram para confirmar ao planeta os problemas que esfacelariam o Nirvana e culminariam com a tragédia de Cobain, 15 meses depois. O show paulistano, em especial, se revelou a apresentação mais absurda da curta história do trio – momentos tensos, imprevisíveis e em marcha lenta de hits irreconhecíveis, equipamentos destruídos, instrumentos trocados e covers desleixadas. Metade do público debandou antes do desfecho. Na época, Grohl comentou que teria sido o pior show da história do Nirvana. Quase duas décadas depois, a impressão que ele guarda é ligeiramente diferente.

Falando sobre memórias: a primeira vez em que você esteve no Brasil foi para aqueles dois shows em 1993. Eu estive no primeiro, em São Paulo, e só lembro que foi uma insanidade do começo ao fim. Não sei se você se recorda de algo específico dessa noite ou do próprio país.
Lembranças especiais…[ pensa] Bem, aqueles shows foram malucos. Era um tempo bem estranho para a banda. Eu acho que houve três fases para o Nirvana. Houve a primeira, antes de eu entrar na banda, quando eles eram apenas um simples grupo de três caras lutando para chegar de uma cidade a outra, vivendo o sonho da banda na estrada, mas lutando para se firmar. Daí, houve a fase seguinte, que é a época do Nevermind. A primeira metade da fase do Nevermind foi a experiência ideal para qualquer banda nova. Nós fomos do ponto em que viajávamos em uma van e ficávamos empolgados pra valer ao ver o público crescendo até a hora em que vimos o disco explodindo e percebemos: “Uau, eu posso comprar meu próprio apartamento! Eu consigo pagar três refeições por dia em vez de só uma!” Entende? Pequenas mudanças na vida como essas. Então, a fase seguinte foi a reação à explosão e a ressaca que veio com isso. Foi quando as coisas ficaram difíceis. A gente queria fazer parte de uma banda popular, mas acho que não esperávamos que se tornaria tão popular. Quando fomos ao Brasil, acho que foi o maior público para o qual tocamos até aquele momento. Em todos os tempos. Não sei, não me lembro quantas pessoas haviam lá.

Dizem que havia mais de 100 mil pessoas no show de São Paulo.
Sabe uma criança usando os sapatos dos pais? É bonitinho quando uma menina de 3 anos coloca um par de sapatos de salto. “Olha, que gracinha, ela com o sapato da mamãe.” Mas eles não servem. Ela tropeça, fica esquisito. E, de certa forma, era mais ou menos desse jeito quando fomos ao Brasil. Ao mesmo tempo, era como se alguém tivesse nos dado as chaves do castelo e dissesse: “Ok, podem fazer o que quiserem!” E nós: “Sério? Podemos mesmo fazer o que a gente quiser no estádio esta noite?” E daí, se tornou o show mais maluco que você já viu em toda a sua vida. Porque nós nunca pensamos que chegaríamos lá.

Você declarou recentemente que, já que passou dos 40, deveria tentar fazer um disco pesado agora, porque não sabia se seria capaz disso quando estivesse mais velho. Você se enxerga no futuro, com 60 anos ou mais, em turnê mundial, tocando três horas seguidas, como ainda fazem Paul McCartney e Mick Jagger?

Olha que engraçado: eu me lembro que, anos atrás, disse que pararia de fazer essas coisas antes de… acho que eu disse 33 anos de idade. Eu não sei por que escolhi esse número, mas acho que falei: “Certo, eu vou parar aos 33. Porque eu não quero ficar como o Mick Jagger, correndo pelo palco, com 60 anos”. Mas, conforme você vai envelhecendo, percebe que o seu amor pela música não desaparece. As maneiras com que você se entrega, se apresenta ou produz sua música podem até mudar, mas o amor pela música nunca muda. Sabe, eu me sinto mais empolgado em fazer música agora do que quando tinha 18 anos. Por causa das oportunidades que tenho. Sou convidado a tocar com pessoas diferentes todos os dias. Ninguém me convidava para tocar junto quando eu tinha 18! Agora, tipo, estou empolgado, quero fazer isso o tempo todo. Mas… se eu vou conseguir berrar “Best of You” do fundo dos meus pulmões quando eu tiver 70 anos? [risos]

Esperamos que sim, por que não?
Provavelmente, não. Ou então, vamos ver! É só uma questão de envelhecer bem. Tipo, veja só: será que a gente consegue fazer outro disco mais pesado do que este que acabamos de gravar? Porra, se conseguimos. Só depende de como a banda se sentir na hora, sabe? Eu acho que com Wasting Light sentimos que era a hora de proporcionar outro choque ao nosso sistema. Que era a hora de parar de experimentar e fazer um disco de rock com 11 músicas do caralho. Fazer ele simples, pegajoso, pesado pra cacete. Era tudo o que queríamos. É por isso que chamamos o Butch Vig. Nós não planejamos fazer uma obra-prima experimental, mas apenas um simples disco de rock. No fim das contas, é isso que atinge as pessoas. Quando começarmos a gravar o próximo álbum, vai saber? Talvez a gente faça uma porra de um disco de reggae. Só depende do que parecer a coisa certa no momento.

Nesse sentido, quem inspira você?
Atualmente, Paul McCartney é um excelente exemplo. Paul McCartney está mais ocupado e feliz do que jamais esteve na vida toda. A paixão dele pela música é algo inacreditável. Sempre que tocamos ou fazemos jams juntos, ele é o cara mais empolgado da sala. E ele é o Paul McCartney! Eu é que deveria estar empolgado de estar tocando com ele!

Aliás, é verdade que você está participando do novo disco do Paul?
Não, eu não estou trabalhando com ele no novo disco. É claro que se ele chamasse, eu iria. Mas não, não estou [risos]. Seria divertido.

Tirando os eventuais momentos ruins, encaremos os fatos: você tocou na maior banda dos últimos 20 anos, é o líder da maior banda de rock da atualidade, tocou com integrantes dos Beatles, Led Zeppelin, Black Sabbath, Queen… É o cara mais sortudo da história do rock ou o quê?
Sim. Eu sou. Eu sou! Quero dizer, honestamente? Se tudo acabasse hoje, eu seria o cara mais feliz do mundo. Porque eu alcancei mais na minha vida do que jamais imaginei possível. Houve altos e baixos, mas veja o lugar em que estou agora. Tenho uma banda maravilhosa, que funciona como uma família. Somos todos muito amigos, e tem sido assim por 15, 20 anos. Tenho uma família linda. E tenho pessoas esperando pelo meu próximo disco. Eu não poderia pedir por mais nada. Eu não poderia querer mais. Poder ir para o Brasil e tocar para um público que não vejo há dez anos ou mais? É uma honra incrível até o fato de que queiram que eu volte! Então, talvez eu seja o músico de rock mais sortudo do planeta. Porque não há muitos que tiveram a segunda chance que eu tive. E acredite, eu acordo todos os dias e agradeço aos céus por ainda estar aqui para vivenciar tudo isso.

Texto originalmente publicado na Rolling Stone em 2 de abril de 2012.


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